19 julho 2007

Capitalismo e Educação

Esse texto que segue eu achei aqui perdido. Eu gostaria de o ter colocado antes no blog mas não achava. Foi escrito a algum tempo e provavelmente apresenta falhas mas na época eu gostei dele e assim vai permanercer!

Os Processos no Mundo do Trabalho e da Educação no Contexto do Capital

Fazendo a análise acerca desse tema, podemos compreender melhor as falhas do capitalismo e, conseqüentemente, do modelo educacional (taylorista/fordista e agora o toyotista) vigente, com o objetivo de superarmos esses entraves que estão presentes em nossa sociedade.

Com embasamento nos textos Exclusão Includente e Inclusão Excludente de Acácia Zendeida Kuenzer e As Metamorfoses no Mundo do Trabalho de Ricardo Antunes, podemos dizer que as relações entre educação e trabalho no mundo do capitalismo apresenta contradições e produz novas seqüelas sociais, como a classe sub-proletariada, a precarização das condições de trabalho além de uma diminuição do numero de operários da classe industrial e fabril. Podemos buscar nessa base também o papel atribuído as políticas neoliberais no âmbito da educação e do trabalho e, além disso, buscar compreender também o impacto destas mudanças nas competências conteúdo, método, espaços atores e formas de controle.
Fatos como a redução da mão-de-obra industrial, geram uma grande taxa de desemprego, o que faz surgir um grande número de trabalhadores em condições precárias e sem uma regulamentação trabalhista. Um outro fato a ser notado, é a alta especialização e a intelectualização dos trabalhadores com o objetivo de se adaptar ao atual estágio das linhas de produção modernas, o que acarretaria na destruição da economia de mercado pois, com a redução do número de trabalhadores, agora especializados, e a substituição feita por operários-robôs, torna-se impossibilitada a integralização do processo de acúmulo de capital.

A outra idéia muito reforçada pelos autores, sobretudo Acácia Kuenzer, é a do processo de inclusão excludente e inclusão excludente. O primeiro se refere à exclusão sofrida por trabalhadores do mercado formal (direitos assegurados) e a inclusão no mercado precarizado, com baixa renda e condições de trabalho às vezes pífias e com a negação de seus direitos de profissional. Por isso exclusão (do mercado de trabalho) includente (no trabalho precarizado). Já o segundo termo diz respeito a formação do trabalhador típico toyotista que, aplicada ao âmbito da educação, substitui a formação básica por cursos profissionalizantes. Substitui a qualidade da educação pelo curto prazo em que é feita e sempre voltado para a produção.

A Escola, os Professores e os Alunos

Para compreendermos de maneira mais satisfatória as influências desse novo sistema, o neoliberalismo, estabeleceremos a partir de agora uma contextualização histórica de escola, professores e alunos, respondendo as questões o que é a escola? Quem são seus professores e seus alunos?

As respostas dessas perguntas são, tecnicamente para a primeira, uma instituição de ensino ou uma corrente de pensamento com características padronizadas que formam certas áreas do conhecimento e da produção humana. A palavra vem do grego scholé, que significa lugar do ócio. Na Grécia Antiga, as pessoas que dispunham de condições sócio-econômicas e tempo livre, nela se reuniam para pensar e refletir.

No Brasil é dividida no primeiro ciclo do ensino fundamental (1.ª a 4.ª série), o segundo ciclo (5.ª a 8.ª série) e no ensino médio ou segundo grau (1.º ao 3.º ano). O ensino médio pode ser feito de maneira regular ou técnica, e esta segunda opção é voltada diretamente ao mercado de trabalho e muitos dos alunos que seguem esse rumo desejem ingressar no ensino secundário e simultaneamente obter uma qualificação profissional. Esses cursos técnicos podem ser também de nível superior, como no caso das FATEC’s.

O passo seguinte é o Ensino Superior, representado pelas universidades, originárias da Europa medieval. Da Grécia, entretanto, podemos considerar a Academia fundada pelo Filósofo Platão (retratada na pintura de Rafael) pode ser compreendida como a primeira universidade. Era baseada no ideal grego de homem omnilateral, aquele que era o homem em sua totalidade, praticando a ginástica (cuidando de seu corpo) e estudando as artes, a filosofia e a matemática (polindo sua alma).

Para a segunda questão, podemos responder também em nível técnico, os Professores são aquelas pessoas que ministram aulas em todos os níveis de educação, desde o ensino fundamental até o ensino superior, tanto de terceiro e quarto grau (pós-graduação) direcionado a alguma área de conhecimento, podendo, todavia, assumir mais de uma dessas áreas em sua profissão de lecionar. Espera-se que o Professor domine o conteúdo a ser ensinado aos alunos em quase que sua plenitude e que ainda estude metodologias de superar as dificuldades dos estudantes ou pelo menos de proporcionar a eles, motivações para o aprendizado. Acreditamos que, para o cumprimento de tal papel fundamentalmente social que será discutido a seguir, o profissional deve estar sempre se atualizando e buscando conhecer mais sobre a sua frente de atuação, quanto na parte comum a todos os professores, a metodologia e os idéias da educação e as novas idéias surgidas neste âmbito.

A maneira como vemos a escola ou talvez nem bem a escola, mas a maneira como ela encontra-se hoje, seu objetivo prático e não ideal, sua maneira de se conduzir, as pessoas que a controlam e os interesses que são defendidos, é de uma instituição de dominação plena de uma minoria que constitui a elite em nosso país atrelado a um sistema capitalista atrasado, baseado em uma visão totalmente economicista, ainda possui uma educação de qualidade e a imensa maioria, representada pelas classes baixa e média-baixa, são submetidas a um processo educacional pífio, com falsas idéias de mercado e com resultados devastadores para a sociedade desse país.

Tomando um exemplo, a "minha" escola, uma escola particular de qualidade razoável e a escola em que eu mesmo fiz estágio, a Escola Estadual Jesuíno de Arruda, que mostra qualidade muito inferior nas aulas que pude acompanhar, fazendo a ressalva de que isso não é culpa do Professor.

Em sua entrevista ao jornal “Estado de São Paulo”, Jessé Souza faz uma análise chamada “Efeitos ópticos de nossa miséria” e em um dos trechos da entrevista ele afirma “Conhecimento é recurso social escasso, que o capitalismo moderno democratiza em alguma mediada. Valeria a pena frisar que, em todas as sociedades tradicionais, o acesso ao conhecimento foi guardado a sete chaves”.

A elite capitalista sempre esteve ciente da importância da qualidade da educação no processo de dominação na luta de classes, formulada por Karl Marx como a força motriz por trás da história e que a negação a essa qualidade de ensino ao proletariado (classe dominada) sempre pesou na balança da desigualdade em prol da opressão. Esse papel da burguesia (classe dominante) foi feito com tamanha eficiência que a crise educacional brasileira está neste ponto em que se encontra. Podemos ver esse papel de dominação de classes pelo capital cultural em exemplos como aqui no Brasil desde os jesuítas, em especial o padre Antônio Vieira em seus sermões aos escravos na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

O direito a educação foi negado com atitudes como vestibular, o símbolo da exclusão, pela privatização e pela “mcdonaldização” (termo usado para enquadrar o modelo de educação completamente enquadrado no neoliberalismo) do ensino em que se condicionou que quem tiver um melhor poder aquisitivo, tem uma educação mais qualificada, tem acesso as universidades públicas gratuitas e de qualidade. A democratização do ensino promovido na sociedade brasileira fez com que muitos cantos do país a partir da década de setenta possuíssem escolas. Entretanto, essas escolas eram de baixa qualidade e esse foi o grande golpe aplicado a “sociedade baixa” que não teve condições de se escolarizar decentemente e continua “no bolso dos empresários da Avenida Paulista”. A escola se tornou um lugar para formar engrenagens, e não mais cidadãos. O modelo fordista/taylorista de produção é empregado na educação formando pessoas sem senso crítico, sem capital cultural e, sobretudo, sem idéias de cidadania. Como é dito em uma música chamada “Sonho Médio”; “Amanheceu mais uma vez e é hora de acordar para vencer, e ter o que falar, alguém para mandar, uma vida pra ordenar, poder acumular, ai então viver, viver e prosperar, mas nada a pensar, me myself and I, e assim permanecer, Credicard, Status Quo. É tudo que penso ser, ilusão é questionar. O sonho médio vai, vai te conquistar, e todo dia iremos juntos ao Shopping pra gastar. Ter e sempre acreditar, princípio meio e fim, a hipocrisia vai vence, vou sorrir pra você, será uma festa em meio ao caos e as pessoas feias pagarão, pois somos os eleitos, pelo menos achamos ser, a nossa raça é superior, pois vou fingir ser daquela cor. Roberto Campos é nosso guru e pra sempre seremos liberais pra trabalhar. Pra viver. Não me importa se teus filhos não terão educação, eles têm que ter dinheiro e visual. O sonho médio vai, vai te conquistar, mentalidade de plástico e uma imagem a zelar! (Música: Sonho Médio, Banda: Dead Fish, Álbum: Sonho Médio)”. E esse é o ideal que foi introduzido nos corações e mentes da sociedade desse país.

Se o capital e sua nova vertente neoliberal produz esse tipo de ideal de educação, deve também produzir ferramentas que lhe possibilite introduzir com tamanho sucesso esse modelo de educação e felicidade “proposto” (lê-se imposto) e dessas ferramentas, parte os Professores responsáveis pela educação no Brasil.
Esses profissionais tem seu papel social renegado em beneficio do papel tecnicista que deve assumir a educação segundo essa proposta, e a educação não só fundamental e média, mas também e talvez principalmente o ensino superior, daqueles poucos que a ele tem acesso em uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

As más condições de trabalho, a cultura televisiva e neoliberal de felicidade faz com que o papel que os professores assumam é de instrutores técnicos propriamente ditos, pois não tem estímulos para fazer outra coisa, tendo em vista que o resultado de seu desempenho é visto no final do ano no vestibular ou na entrega das médias e na reflexão sobre o que os estudantes de fato estão interessados. Se o conhecimento que eles adquirem deve ser útil para a sua sobrevivência o ideal omnilateral está sepultado junto com a educação desinteressada e de acúmulo de capital cultural, a grande arma das classes oprimidas contra os seus opressores na busca de condições menos desiguais de sobrevivência. O trabalho do Professor fica restrito a este modelo e poucos são aqueles que tem autonomia ou mesmo liberdade para realizar mudanças nesse paradigma vigente. Essas mudanças não são bem vindas pela ordem que vigora nas estruturas do capital.

5 Comments:

Blogger Augusto said...

Fala Marreco!

Caraca! Tu escreve demais rapaz! Nuss, quando eu tiver mais tempo eu leio as parada aqui!

Ow, tá foda agora de jogar um truquinho, né? Temos que marcar um churrascão! Hehehe!

Valeus!

Augusto

10:14 PM  
Blogger Preta said...

Amigo, quero dizer-te que esse texto é simplesmente magnífico, obrigado por ajudá-me na pesquisa da faculdade, pelo fato de deixarme mais crítica no que irei pesquisar. Parabéns pelo Belo Texto.

8:56 AM  
Blogger Diário de Blog - Linux Adventures said...

Primeiramente, Parabéns pelo texto, pois está, basicamente, DO CARALHO!
Agora as dúvidas: Como a especialização dos trabalhadores acarreta na destruição da economia de mercado?
Como a redução do número de trabalhadores impossibilita a integralização do processo de acumulação do capital? E o que é a integralização do processo de acumulação do capital?
Para responder estas últimas duas dúvidas, posto que não tenho a resposta, eu acho que há um esboço.
Eu li no livro do Leo Hubberman, "A História da Riqueza do Homem" (há muito tempo atrás, portanto, devo ter cometido muitos erros) que o lucro é uma função do trabalho do trabalhador e também do capital investido na empresa no maquinário. A cada novo ciclo de produção na fábrica, maior a parcela do capital representada no maquinário da empresa enquanto que a parcela de riqueza dos trabalhadores contribui menos para a geração do lucro. Só que a parcela dos trabalhadores é justamente a que gera valor agregado na mercadoria que vai ser vendida, e se esta parte é menor, se há menos trabalhadores, talvez esteja aí o problema para integralizar a o processo de acumulação do capital. O problema é que eu preciso ler o livro de novo para corrigir os erros eventuais erros de interpretação colocados aqui, se descobertos. O segundo é que eu não sei como isto pode se encaixar no texto e ser uma explicação.

2:02 AM  
Anonymous Anônimo said...

Excelente! Crítico e objetivo!

Parabéns!

1:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

Enquanto houverem pessoas que pensam da maneira com está explícito nesse texto, realmente nossa sociedade nunca avançará. Se há algum modelo melhor que o capitalismo, que os "pensadores" deixem essa verborragia e o implementem. Só a título de informação, pesquisa em 167 países revelam relação direta entre capitalismo e educação, isto é, quanto mais capitalista é a nação, mais educada e sua população.

5:07 PM  

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