05 março 2008

A Mídia e o Conflito

Olá!

Sobre a situação de conflito eminente que se encontram Venezuela, Equador e Colômbia vou postar aqui um texto que está no Observatório da Imprensa pois não estou acompanhando direito a situação. Espero que façam uma boa leitura!

A guerra nos jornais

O jornal brasileiro que chegou mais perto do conflito no norte da América do Sul foi a Folha de S.Paulo.

E o relato do repórter que chegou ontem à fronteira da Colômbia com a Venezuela não dá conta de grandes movimentações militares na região.

Ele ouviu queixas de comerciantes, consumidores e taxistas, prejudicados com o fechamento da passagem, mas não registrou a presença de militares e carros de combate.

Os entrevistados criticaram os governantes da região por prejudicarem os negócios.

O Estadão, que descreve a situação nas fronteiras a partir de Bogotá, viu coisa diferente. Afirma que "tanques e batalhões enviados por Hugo Chávez" (…) "foram se enfileirando no lado venezuelano".

Ou seja: para os leitores da Folha, é como um dia de fiscalização mais rigorosa na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu.

Ja os leitores do Estadão vão imaginar que o cenário está mais para a Faixa de Gaza.

Essa é a diferença básica entre o jornalismo testemunhal e o jornalismo das fontes e declarações.

Mérito da Folha.

Mas também é a Folha de S.Paulo o único jornal a dar repercussão à tentativa do PSDB de transferir o conflito para o Congresso Nacional, com uma "denúncia" de que o Brasil teria enviado 31 toneladas de armas para a Venezuela.

A afirmação chegou a provocar a ida do ministro da Defesa ao Congresso, para desmentir a notícia, que foi apanhada por um assessor do senador Arthur Virgílio na internet.

A fonte da denúncia é o estelionatário internacional Keneth Rijock, malandro de baixo quilate que se tornou "consultor de empresas" depois de haver sido condenado por fraudes e lavagem de dinheiro.

Os outros jornais simplesmente ignoraram o fato, provavelmente para preservar o senador amazonense de um vexame maior.

O Globo segue cobrindo a crise a partir de Brasília, Bogotá, Quito e Caracas.

O Estadão enviou repórter ao hospital do Equador onde estão internadas algumas guerrilheiras feridas no ataque, e por aí ficamos sabendo que o acampamento das Farc em território equatoriano tinha três hectares, com infraestrutura para longas permanências, como criação de galinhas e sistema de telecomunicações.

Na soma do noticiário de hoje, o leitor pode tirar algumas conclusões:

Primeira: o Equador e a Venezuela nunca se preocuparam em limitar a liberdade dos terroristas em seu território.

O comandante Manoel Marulana, líder maior das Farc, hoje em dia está mais para Lampião do que para Che Guevara.

A terceira conclusão é que os governantes fazem o conflito, os comerciantes fazem a paz.

Ou, como dizem os gaúchos: "Quem mercadeja não quer peleja".



Até!